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O Apelido Vasconcellos Francisco de Vasconcelos Tal como sucede com quase todos os apelidos (em Portugal e nos outros países) sejam eles de origem toponímica como este, de patronimicos ou de alcunhas, são inúmeras as diferentes famílias que o usam e usaram, muitas das quais não têm sequer uma pinga de sangue em comum. Das muitas famílias que usam este apelido - designadamente oriundas da região do Douro Litoral, da Madeira, Açores, Uruguai, Malaca e Singapura, Angola e Brasil - só uma o tem por varonia. Quanto às restantes o apelido de Vasconcelos veio-lhes por linhas com uma ou mais quebras de varonia, bastardia ou simplesmente de "fantasia" (genealogias inventadas), ou descendem de antepassados que passaram a usá-lo por obrigação de algum vínculo, por devoção com algum patrono importante, pelo baptismo cristão de antigos judeus ou nativos das colónias de África, Ásia e Brasil, ou simplesmente porque era o apelido do padrinho de baptismo. E pode mesmo ter havido diferentes famílias que por terem sido em várias épocas sucessivamente moradoras no lugar de Vasconcelos tenham adaptado como apelido o topónimo que começou por ser mera alcunha indicativa de residência. A grafia tem tido variantes: de Vasconcelos, de Vasconcellos, de Basconcellos (na Galiza), Vasconsellos, Vascogoncellos, Uasconcellos, Basconcillos (lugar perto de Burgos, em Espanha), etc. O LUGAR QUE DEU ORIGEM AO APELIDO O nome de Vasconcelos surge pela primeira vez nas inquirições de 1258 para designar uma "honra " (feudo) - hoje um lugar da freguesia de Ferreiros, concelho de Amares, distrito de Braga - então pertencente a João Peres de Vasconcelos, de alcunha "O Tenreiro", fidalgo que participou na conquista de Sevilha e é o mais antigo personagem assim designado. O lugar tem uma torre e paço medieval que dizem ser do século XIII e, embora esteja desde há muito arruinado é ainda assim talvez o mais importante solar fortificado de meados da primeira dinastia que existe em Portugal . Está assente num terraplano, o que faz com que três dos seus lados desçam abaixo do nivel do andar térreo. Compõe-se de uma quadra, a torre, que mede 6,10 por 6,35 metros, e que está junta a outro edificio rectangular. A espessura das paredes é de 1,80 metros e da parede interna é de 1,1 metros. A parte mais alta das paredes atinge hoje já somente 3,65 metros, refere J. Rigaud de Sousa. Incrivelmente ao abandono, ainda há pouco cheio de vegetação, em riscos de se arruinar ainda mais, é um monumento raro, que bem merecia a protecção dos responsáveis - públicos e privados ! NOME DE PLANTA E DE UM PRÉMIO MUSICAL Entretanto está naturalmente ligada a este apelido a origem do nome da "vasconcélia", "género de planta da família das caricáceas" - referida no Dicionário Lello Universal. Mas Vasconcellos não é apenas nome de um apelido e de um solar, pois designa também um prémio de música o "Vasconcellos Music Trust", criado para jovens músicos, cantores e compositores portugueses em memória de António e Domingos de Sousa e Vasconcellos. Os primeiros Vasconcelos, uma linhagem de infanções que a partir do reinado de D. Fernando ascendeu à primeira plana da Corte, adaptaram como brasão de armas um escudo de negro com três faixas veiradas (ou veiradas e contraveiradas, não se sabe ao certo) de prata e encarnado - armas muito parecidas com a dos Alvarengas (seus descendentes por uma senhora) e a da ilustre antiga família francesa dos Sires de Coucy (de encarnado três faixas veiradas de azul e prata). As armas dos Vasconcelos aparecem pela primeira vez sem indicação de cores em l284 num selo do Bispo de Lisboa D. Estevão Anes de Vasconcelos (cf. Marquês de Abrantes, Sigilografia Medieval Portuguesa , selo nº.268) , e com indicação de cores numa pintura em madeira de cerca de 1397/1401 na Igreja de Nª. Sª. da Oliveira em Guimarães. Na versão das três faixas veiradas e contraveiradas aparecem nos principais armoriais oficiais - o Livro do Armeiro Mor (15O9) o Livro da Torre do Tombo, de António Godinho (1515/45), na Sala dos Brasões do Paço de Sintra e na notabilíssima Capela dos Morgados do Esporão na Sé de Évora (1530). Destas armas, que pertencem hoje de direito ao chefe do nome e armas dos Vasconcelos (o Marquês de Abrantes, como sucessor dos Morgados do Esporão e antigos Condes de Figueiró) existem numerosas variantes oficiais consagradas em Cartas de Brasão de Armas atribuídas a famílias nobres de Portugal e Brasil. TÍTULOS DO PRÓPRIO APELIDO Houve alguns titulares da própria designação deste apelido. A saber:
TÍTULOS "DE JURO E HERDADE" Marquês de Castelo-Melhor - Desde o século XVII a principal casa do apelido de Vasconcelos, teve em 1611 o título de Conde de Castelo Melhor. Em 1766 recebeu o título de "juro e herdade" (isto é, hereditário) de Marquês de Castelo-Melhor, por troca com as capitanias hereditárias das Ilhas da Madeira e de Santa Maria dos Açores. Por um casamento com a sucessora dos capitães da Madeira, esta Casa - que apesar de em 1888 ter passado por casamento para a varonia dos Silveiras Pinto da Fonseca (do Visconde da Várzea) conserva ainda o apelido de Vasconcelos - tem também além de outros, o título de Conde de Calheta (de 1576) também "de juro e herdade" e a chefia do nome e armas dos Câmaras. A sua residência tradicional , um dos mais grandiosos palácios de Lisboa ainda existe, embora lhe tenham mudado o nome para Palácio Foz quando no final do século XIX foi alienado pelos Castelo-Melhor. O actual Marquês de Castelo-Melhor, Bernardo de Vaconcelos e Sousa, um dos mais notáveis historiadores da nova geração, sucedeu recentemente a José Mattoso como director do Arquivo da Torre do Tombo. Conde da Lapa - família com nobreza medieval (séc.XIV) por ter a varonia antiga dos "Almeidas por quem o Tejo chora", foi a primeira que usou o duplo apelido Almeida e Vasconcelos. Tem o título "de juro e herdade " de Barão de Mossâmedes, que tirou do Reguendo de Mossâmedes (na Beira) propriedade concedida aos seus antepassados em 1388 e, segundo parece, a chefia do apelido Soveral. O 1º. Barão, que foi capitão e governador de Angola, fundou nesta província ultramarina a cidade de Mossâmedes, à qual deu o nome do antiquíssimo reguengo propriedade da sua família. FAMÍLIAS COM VARONIA DOS PRIMEIROS VASCONCELOS Não se conhece hoje nenhuma famíla que seja descendente por varonia legítima dos primeiros Vasconcelos, senhores da Honra e Solar de Vasconcelos no século XIII e da linhagem do célebre Martim Moniz (cujo feito na conquista de Lisboa surge pela primeira vez num documento 200 anos depois). Existem ainda hoje algumas famílias fidalgas que descendem por varonia dos Vasconcelos medievais - através de Rui Vasques Ribeiro (de Vasconcelos). Senhor das vilas de Figueiró e Pedrogão, filho bastardo (legitimado por D. João I em 1430) de Rui Mendes de Vasconcelos, e dos seus descendentes os primeiros marqueses de Castelo-Melhor. São elas: a família de Luís-Maria Pinto de Vasconcelos e Sousa (ramo segundo dos Castelo-Melhor) e as Casas de Óbidos, Alcaçovas, Pombeiro e Pombeiro de Riba Vizela. Mas de todas elas a única que ainda conserva o apelido de Vasconcelos é a de Óbidos. Todas elas têm portanto uma nobreza por varonia legítima que remonta a 1430. Conde de Óbidos - título de 1636, com Honras de Parente (1749) "de juro e herdade" (1777), família que usa os apelidos Vasconcelos e Sousa , e é também representante dos títulos de Marquês de Santa-Iria, Conde de Palma, Conde de Sabugal, Conde de Alva, dos antigos Alcaides-Mores de Óbidos e Selir do Porto e dos fidalgos Monteiro Paim. Senhores das Alcáçovas , título de 1449, "de juro e herdade" (1518), cujos sucessor em 1834 foi feito (a título vitalício??) Conde das Alcáçovas. Esta Casa, cujos senhores usam os apelidos Henriques de Lancastre e são chefes do nome e armas dos Henriques, passou em 1808 pelo casamento da 13ª Senhora das Alcáçovas, Dona Teresa Henriques, com o Par do Reino Luís de Vasconcelos e Sousa (Castelo-Melhor) à varonia Vasconcelos, apelido que não usa. Também a Casa dos Senhores (1355) e Condes (1662) de Pombeiro, Senhores (l449) e Marqueses (1801) de Belas, Morgados de Castelo Branco-o-Novo (em Santa Iria, junto a Sacavém) passou pelo casamento da 6ª. Condessa com um fidalgo da Casa Castelo-Melhor à varonia Vasconcelos. Não usam contudo este apelido, mas sim o de Castelo-Branco , tradicional na casa Pombeiro e do qual são, segundo parece, os chefes do nome e armas. E, recentemente, também Casa do Paço de Pombeiro de Riba Vizela, que em 1851 teve o título de Barão em duas vidas (extintas em 1906), passou em 1945 pelo casamento da sua herdeira e sucessora com um fidalgo da Casa das Alcáçovas à mesma antiga varonia dos Vasconcelos. Títulos antigos deste apelido: Condes de Penela, casa com varonia (ilegítima) real, descendente de Dona Maria de Vasconcelos casada com o Senhor Dom Afonso de Cascais, filho bastardo do infante Dom João, Senhor de Cascais e Oeiras; Condes de Figueiró e morgados do Esporão (grande herdade perto de Reguengos de Monsaraz, que ainda existe com os mesmos limites que tinha na Idade Média e cujos senhores construiram na Sé de Évora uma notável capela renascença). TÍTULOS BRASILEIROS Títulos e Famílias brasileiras com nobreza hereditária:
ALGUMAS FAMÍLIAS PORTUGUESAS
PERSONALIDADES NOTÁVEIS
BIBLIOGRAFIA Eugénio de Castro - "Os Meus Vasconcelos". Pedro de Azevedo - "Os de Vasconcelos", in Archivo Histórico Português (1904). "Monografia do Concelho de Amares". Miguel Lopes Ferreira - "Vida e Acções de Sua Alteza Sereníssima Fr. Luís Mendes de Vasconcellos, Grão--Mestre da Sagrada Religião de Malta, ed.1731. Amselmo Braamcamp Freire - "Brasões da Sala de Sintra". Oliveira Mouta - "Dos Barros e Vasconcellos". Álvaro Ferreira de Vera - "Información de la Origen de los Vasconcellos", Madrid. João Salgado de Araújo, Abade de Pera - "Sumário da Família Ilustríssima de Vasconcellos", ed. Madrid, 1638. Artur da Mota Alves, "O Morgadio de Fontelas", ed. Lisboa, 1937. José Mattoso - "Religião e Cultura na Idade Média", pag. 228 e seg. José Augusto P. de Sottomayor Pizarro - "Os Patronos do Mosteiro de Grijó", Ponte-de-Lima. 1995, pp. 125, 138, 143-147, 155 e 295. Francisco de Vasconcelos - "Os Vasconcelos de Vila do Conde", Boletim Cultural da Câmara Municipal de Vila do Conde, 1987,1988 e 1989. José João Rigaud de Sousa - "Casas-Torres Ainda Existentes nos Arredores de Braga", in "O Distrito de Braga". Vol. III, 2ª série (VII), 1978, pp. 7-11.
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Atualizado
em 11/06/2007 |